quarta-feira, 20 de junho de 2012

As consequências "radicais" do álcool





    As bebidas alcoólicas são tidas por muitos como uma ilustre fonte de prazer, figurando amiúde em festividades e reuniões prosaicas entre amigos. Não obstante, esses produtos também acumularam um repertório de acusações no que se refere aos danos que eles perpetram ao bem estar social e individual.
    O alcoolismo, doença caracterizada pelo consumo compulsório de álcool, além de produzir inexoráveis sequelas morais e afetivas (sobretudo na esfera familiar) também atua na degradação do organismo, como por exemplo na indução do estresse oxidativo.


     O etanol quando ingerido eventualmente em doses moderadas tende a ser metabolisado por meio de uma via no qual ele é convertido à acetaldeído no citossol por uma enzima conhecida como álcool desidrogenase com consequente redução de NAD a NADH.
     O acetaldeído por sua vez é convertido à acetato, novamente com redução de NAD a NADH, por meio de uma enzima mitocondrial conhecida como acetaldeído desidrogenase.
     A proporção na qual as enzimas álcool desidrogenase e acetaldeído desidrogenase se apresentam pode atuar como um fator de proteção ou propensão ao alcoolismo. Para a compreensão desse fato é preciso antes de mais nada estabelecer que o acetaldeído é o composto responsável pelo desconforto gerado pelo consumo do álcool, vulgarmente conhecido como ressaca.


      Dessa forma, uma maior proporção de álcool desidrogenase ladeada por uma menor proporção de acetaldeído desidrogenase, acaba por induzir uma maior concentração de acetaldeído e assim sensações de mal estar, o que acaba fazendo com que o usuário sinta aversão pelo etanol. O contrário também é verdade, uma menor concentração de acetaldeído acaba atuando como um fator de propensão ao alcoolismo. Os asiáticos tendem a ter um organismo no qual há uma maior proporção de álcool desidrogenase e menor proporção de acetaldeído desidrogenase, tal configuração metabólica é um fator de proteção contra o alcoolismo.
     Quando a ingestão de etanol se dá de forma crônica e frequente, tal como ocorre no alcoolismo, ocorre a ativação da via do citocromo p450. O citocromo p450, uma enzima localizada no retículo endoplasmático liso, tem como função auxiliar na expulsão de compostos xenobióticos tornando-os mais hidrofílicos a fim de que eles possam ser eliminados por meio dos fluidos expelidos pelo corpo.

     No citocromo p450 o etanol é convertido à acetaldeído por meio do consumo de NADPH e O2.Os elétrons (geralmente) oriundos do NADPH são empregados na quebra do O2 e consequente produção de radicais livres, sendo um átomo de oxigênio utilizado na oxidação do etanol e o outro na produção de água.
     Além da produção de radicais livres, nesse processo também ocorre a oxidação de NADPH, uma coenzima que regenera um antioxidante conhecido como tripeptídeo glutationa por meio da redução do mesmo. Uma vez oxidado na via do citocromo p450, a coenzima acaba por não poder atuar na reparação do antioxidante. Isso acaba sendo um fator de potencialização do estresse metabólico.
     Vitaminas E (responsáveis principalmente pela proteção contra a lipoperoxidação) e carotenóides são antioxidantes que também sofrem diminuição significativa em função do alcoolismo crônico.
     Também é válido salientar que o acetaldeído produzido ao longo do processo é um composto de elevada reatividade que pode ligar-se à proteínas podendo assim inativar as mesmas. Quando se trata de proteínas sinalisadoras pode ocorrer a indução de vias metabólicas que induzam a morte celular(apoptose) dos hepatócitos, gerando consequente desgaste do tecido hepático.
    



     Todas as informações expostas aqui podem ser consideradas uma breve exposição de alguns dos vários mecanismos que o álcool dispõe para degradar o organismo atuando assim como um agente causador de uma série de danos físicos.A publicidade que exalta o consumo de bebidas alcoólicas, a principal ferramenta encontrada pela indústria no recrutamento de novas gerações de consumidores, oculta do grande público tais informações e vendem a imagem da bebida alcoólica como uma provedora de bem-estar e status.


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