segunda-feira, 18 de junho de 2012

Lipoperoxidação

    


    A lipoperoxidação trata-se de um processo no qual ocorre a oxidação das cadeias de ácidos graxos polinssaturadas, incluindo aqueles que compõem a membrana das células ou organelas, devido à ação dos radicais livres. Como consequência, ocorrem transtornos nas funções exercidas pela membrana plasmática tais como seletividade e transporte ou até mesmo extravasamento do conteúdo de certas organelas tais como as enzimas encerradas nos lisossomos.
      Divide-se a lipoperoxidação em três etapas: iniciação, propagação e terminação.

 LH + OH* (ou LO*) ----> L* + H2O (ou LOH)   iniciação
 L*  +  O2                  -----> LOO*                         propagação
 LH + LOO*             ------> L* + LOOH               propagação
 LOO* + L*              ------> LOOL                        terminação
 LOO* + LOO*        ------> LOOL + O2               terminação


      A iniciação ocorre quando um íon OH* (ou LO*) ataca um grupo metileno (-CH2-) do ácido graxo polinssaturado (LH) arrebatando um próton H* dando origem assim a H2O (ou LOH quando for o radical LO* o responsável pelo início da lipoperoxidação) e ao radical L*.
      O radical L* será o responsável pela manutenção das reações de oxidação de ácidos graxos na etapa de propagação, que tem o seu ínicio com a reação do L* com O2, formando assim o LOO* (radical peroxila). O LOO* pode então oxidar outro ácido graxo dando origem a L* e LOOH (hidroperóxido lipídico) ou então reagir com um L* dando origem ao composto estável LOOL, sendo esta reação uma das possíveis terminações da lipoperoxidação.
       Outra forma de terminação para a lipoperoxidação é a reação entre dois LOO*, dando origem ao composto estável LOOL e O2.

 LOOH + Fe(II) -----> Fe(III) + OH* + LO*
 LOOH + Fe(III) ----> Fe(II)  + LOO* + H

       É necessário salientar que durante esse processo pode ocorrer a interferência de íons de ferro que acabam por potencializar a amplitude de danos causada pela lipoperoxidação da seguinte maneira: o LOOH (hidroperóxido lipídico) produzido em uma das reações de propagação pode ser reduzido ou oxidado respectivamente pelos íons Fe(II) e Fe(III), de tal sorte que a primeira reação se processa com maior rapidez que a segunda.
       A reação com Fe(II) origina o LO* e OH* enquanto que a reação com Fe(III) origina LOO* e H*.

      Dentre os produtos gerados pela peroxidação lipídica está o malonaldeído (MDA), composto que pode atacar resíduos de aminoácidos (induzindo perda de função por parte de proteínas) ou bases nitrogenadas (tendo assim propriedades mutagênicas), que pode ser utilizado no monitoramento do patamar de lipoperoxidação. Esse método consiste na reação do MDA com ácido tiobarbitúrico, gerando assim um composto capaz de captar ondas a 532 nm podendo assim ser submetido à técnicas de espectofotometria.
      A vitamina E figura entre os antioxidantes capazes de retardar a lipoperoxidação, haja vista que trata-se de um composto lipossolúvel que pode abrigar-se na membrana plasmática, local onde tal reação ocorre com notável frequência. O mecanismo que a vitamina E se vale nesse processo consiste na doação de um átomo de hidrogênio para o LO* (radical alcoxila) ou para o LOO* (radical peroxila), subtraindo desses dois últimos a sua farta reatividade e ao mesmo tempo se convertendo no radical estável tocoferoxila, o que acaba por impedir a permanência da cadeia oxidativa da lipoperoxidação.       
      É de suma importância a compreensão da lipoperoxidação haja vista que tal processo pode estar intimamente relacionado com problemas de saúde tais como aterosclerose, envelhecimento cutâneo, artrite e câncer.Entretanto, é válido ressaltar que o processo de lipoperoxidação, em alguns casos específicos, também pode ser um evento natural e necessário, como por exemplo na conversão de ácido aracdônico à prostaglandinas em respostas inflamatórias.


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